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domingo, 22 de abril de 2012

O 'ABCD' da Divina Comédia




Argumentos usados para a existência de deus, e suas respectivas refutações.

A- O argumento cosmológico

1. Tudo que existe deve ter uma causa
2. O universo deve ter uma causa
3. Nada pode ser causa de si mesmo
4. O universo não pode ser causa de si mesmo
5. Algo fora do universo deve ter causado o universo
6. Deus é a única coisa que está fora do universo
7. Deus causou o universo
8. Deus existe

Falha: Se tudo que existe deve ter uma causa, quem causou Deus? Os teístas dizem que suas premissas têm ao menos uma exceção, mas não explicam por que Deus precisa ser a única exceção. O próprio universo poderia existir sem causa. Já que a responsabilidade precisa ir para alguém, por que não para o universo?

B- O argumento do projeto

1. Sempre que existem coisas que se combinam de forma coerente apenas por causa de um propósito ou função (por exemplo, todas as complicadas partes de um relógio que lhe permitem marcar o tempo), sabemos que houve um projetista, alguém que projetou com a função em mente; são coisas improváveis demais para terem surgido por processos físicos aleatórios (um furacão soprando através de uma loja de peças não conseguiria montar um relógio).
2. Os órgãos dos seres vivos, como o olho e o coração, se mantêm coesos apenas por terem uma função (o olho tem a córnea, lente, retina, e assim por diante, que se encontram no mesmo órgão apenas porque em conjunto possibilitam que o animal veja).
3. Esses órgãos precisam ter um projetista que os desenhou com sua função em mente: assim como um relógio implica um relojoeiro, o olho implica um fazedor de olhos
4. Essas coisas não tiveram um projetista humano
5. Portanto, essas coisas devem ter tido um projetista não humano
6. Deus é o projetista não humano
7. Deus existe

Falha: A falácia no argumento é a premissa 1. Partes de um objeto complexo servindo uma função complexa não requerem, na verdade, um projetista. Charles Darwin mostrou como processos de replicação podem dar origem à ilusão de projeto e projetista. Replicadores podem fazer cópias de si mesmos, que fazem cópias de si mesmos e assim por diante, dando origem a um sem número de descendentes. Os replicadores precisam competir pela energia e os materiais necessários para a replicação.
Uma vez que nenhum processo de copiagem é perfeito, podem acabar surgindo erros, e qualquer erro que leve o replicador a se reproduzir com mais eficiência que os competidores resultará na predominância daquela linhagem na população. Após várias gerações, os dominantes parecerão ter sido projetados para replicação eficaz, mas tudo que fizeram foi acumular erros de copiagem, que no passado levaram a uma reprodução eficaz.

C- O argumento do Big Bang

1. O Big Bang, de acordo com a melhor opinião científica de nossos dias, foi o início do universo físico, incluindo não apenas matéria e energia, mas o espaço e o tempo e as leis da física
2. O universo veio a existir do nada
3. Algo fora do universo, inclusive de fora das leis físicas, deve ter trazido o universo para a existência
4. Somente Deus poderia existir fora do universo
5. Deus deve ter feito o universo existir
6. Deus existe

Falha: Nem os cosmólogos concordam que o Big Bang é uma singularidade, a aparição súbita de tudo. Ele pode representar a emergência de um novo universo a partir de outro previamente existente, situação explicada por leis físicas. Nesse caso, seria supérfluo invocar Deus para explicar o surgimento de algo a partir de nada.

D- O argumento das preces atendidas

1. Às vezes as pessoas rezam a Deus pedindo boa fortuna, e contrariando enormes chances, os pedidos são atendidos (por exemplo, um pai que reza pela vida de um filho moribundo, e a criança se recupera)
2. As chances de o evento benéfico acontecer são enormemente reduzidas
3. As chances de a prece ser seguida pela recuperação da criança por puro acaso são extremamente pequenas
4. A prece só poderia ter sido seguida pela recuperação se Deus a escutasse e a fizesse realizar-se
5. Deus existe

Falha: A premissa 3 é verdadeira. Contudo, usá-la para inferir que ocorreu um milagre (uma prece atendida é certamente um milagre) é subvertê-la. Não há nada que seja menos provável que um milagre, já que constitui violação de uma lei da natureza. Portanto, é mais razoável concluir que a conjunção de prece e recuperação seja uma coincidência do que ser uma prece atendida.
Além disso, dada a amostragem suficientemente grande de preces (o número de vezes que as pessoas pedem a Deus para ajudar a elas é muito grande), o improvável está sujeito a acontecer ocasionalmente.

E- O argumento do consenso da humanidade

1. Toda cultura em toda época tem tido crenças teístas
2. Quando povos, largamente separados tanto por espaço como por tempo, possuem crenças semelhantes, a melhor explicação é que essas crenças sejam verdade
3. A melhor explicação para o porquê de cada cultura ter crenças teístas é que essas crenças são verdade
4. Deus existe

Falha: A premissa 2 é falsa porque povos largamente separados poderiam muito bem inventar as mesmas crenças, só que falsas. A natureza humana é universal, e assim propensa a ilusões universais e deficiências de percepção, memória, raciocínio e objetividade.

Pedro Pinheiro

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